quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Fim de Caros Amigos


Publicação do Editorial da Edição 248, em 14 de dezembro de 2017

Fim de Caros Amigos

É o pior editorial que um jornalista pode escrever: anunciar o fim de um projeto acalentado por 20 anos. A revista Caros Amigos resistiu o quanto pôde, mas não resistiu ao golpe, ao cerco ideológico do governo ilegítimo, ao aprofundamento da crise deste ultraneoliberalismo que pune a nação com vingança, ódio e descaramento institucional contra os avanços e conquistas sociais. Circula esta, sua última edição, também diante de um mercado editorial em profunda transformação, com queda nas vendas em todos os nichos, e o avanço das mídias digitais, dominadas por grandes corporações e assoladas por fake news e ações de rapina ideológica. Mas também é da necessidade de bom jornalismo nesses tempos de “mídias da confusão” e ambiente digital bruto que a editora vai manter o site de Caros Amigos e continuar oferecendo nas bancas republicações de suas edições temáticas, produzidas ao longo dessa jornada.

A última edição de Caros Amigos aproveita para olhar para este contexto da era digital e suas “novidades”. A guerrilha virtual das fake news, robôs e novos hábitos de busca e consumo de informação, como os da plataforma de vídeos YouTube, que cria celebridades de conversas banais e por vezes racistas e discriminatórias e é contudo, sonho de fama das novas gerações. Como questiona o teórico da contemporaneidade Massimo Canevacci, em uma das reportagens, não era pra ser assim — para ele, a era digital cria a “personalidade digital autoritária” de um “fascismo sem controle”.

Esta edição tem ainda a história dos jornais da resistência, publicações que desafiaram ditadores, governos, censura e mesmo o mercado, para manter acesa a chama por um mundo mais justo e plural. E, ainda, artigos sobre a democratização da mídia e análise dos governos petistas e seus laços com projetos neoliberais, seus impactos na geopolítica na América Latina. Além das colunas dos colaboradores, que também se despedem de Caros Amigos, alguns deles, sem falhar em nenhuma das 248 edições. Fique aqui registrada uma profunda admiração e nosso agradecimento. A todos que passaram pelas páginas e redação de Caros Amigos, jornalistas, articulistas, são tantos; aos anunciantes que acreditaram na marca e ajudaram na sobrevivência, FNAE, CNTE, entre outros. Também aos caríssimos e fiéis leitores. Valeu a caminhada!

A revista se vai nesse vendaval de mudanças tecnológicas e seus impactos nas relações sociais, na comunicação de massa, na reorganização das  sociedades e mercado. O site vai manter a chama dessa batalha no ciberespaço selvagem e sempre manipulável das novas plataformas e atores da informação. Embora de outra forma, o sonho continua.

Boa leitura!

Texto e imagem reproduzidos do site: carosamigos.com.br

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